Homenagem ao malandro




A homenagem ao malandro, música de Chico Buarque, no final da década de 70 não poderia ter nascido em melhor época. Prefaciou um período de corrupção democratizada – marcada pelo fim da ditadura. Sim, porque falamos no Brasil como um país democrático onde há corrupção, como se isso fosse possível. Mas quando digo que a música nasce em bom momento, estou falando do quanto foi feliz artista, pois a obra é atuada e atualizada tanto por engravatados principalmente da classe política quanto pelos simples malandros “sambistas”, aos quais o compositor se reporta quando fala da “nata da malandragem”.

Na peça musical, entram em cena contrabandistas, policiais corruptos, empresários mercenários e agiotas da Lapa, no Rio de Janeiro. Aliás, esses não menos importantes “personagens” são muito bem representados por cidadãos comuns que ainda não sabem em quem vão votar na próxima eleição porque ainda não descobriram de quem virá a melhor oferta. Dizem apenas que está cedo para escolher e racionalizam que seus – tão apropriados – líderes são safados, não respeitam a coisa pública, são irresponsáveis; enfim, apontam suas afinidades.

Por essas afinidades e um sistema eleitoral que viabiliza o desmando (voltarei a esse assunto em outro texto) contamos três décadas de escândalos. E se não me engano, não há quem diga que isso pare por aqui. (CEK)

Chico Buarque
Homenagem ao Malandro

Eu fui fazer um samba em homenagem
à nata da malandragem, que conheço de outros carnavais.
Eu fui à Lapa e perdi a viagem,
que aquela tal malandragem não existe mais.
Agora já não é normal, o que dá de malandro
regular profissional, malandro com o aparato de malandro oficial,
malandro candidato a malandro federal,
malandro com retrato na coluna social;
malandro com contrato, com gravata e capital, que nunca se dá mal.
Mas o malandro para valer, não espalha,
aposentou a navalha, tem mulher e filho e tralha e tal.
Dizem as más línguas que ele até trabalha,
Mora lá longe chacoalha, no trem da central

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